samedi 2 juillet 2011

...

Aos poucos eu me esqueço das coisas. Muito do que antes fazia com que eu pensasse em fazer sentido se esvai. O que sobra é uma sensação de vazio, mas é um vazio bom, porque me diz que há espaço para coisas novas. E, ultimamente, sou totalmente nova, sou totalmente buracos e abismos, sou crateras e Big Bangs. Há um universo em formação dentro de minha barriga. A fome que tenho é de mundo e de tudo, de todos. Tenho um apetite que não controlo e que rói até mesmo meus ossos. O corpo se expande (em um breve interlúdio que, sei, será substituído por uma contração devastadora). Meus peitos se enchem de leite, para eu alimentar o mundo, para contaminar todas as moléculas com minha necessidade de explosão. 

Cubro as paredes de meu quarto com fotografias de Man Ray e Frida Kahlo. Leio sobre Anaïs Nin e me surpreendo com o tamanho de June, tão pequena e tão devastadora. Paro, petrificada, perante as páginas que falam de Miller, ou daqueles Millers, e desejo, intensamente, aquela mobília e as cores das paredes. Desejo Emilia me preparando jantares nababescos, suflês de se cair o queixo, Hugo com seu pau descomunal e Henry com sua fome de carboidratos e sua falta de escova de dentes. Desejo Sylvia Beach e Titus me mandando para editores que nunca me publicarão. Desejo aulas de dança flamenca, desejo, desejo, desejo. Desejo francês e franceses, francesas, desejo o mundo. Ah, como desejo. 

Sento aqui na sala, olhando para os copos recém-comprados e penso nas grandes reuniões, penso em um mundo para daqui a dois anos e me sinto realizada, assustada, assombrada, como diz Fernando, 

(sic) sei ter o pasmo essencial que tem a criança se, ao nascer, reparasse que nascera deveras

e é esse pasmo que ando carregando comigo. A cada dia um novo passo, uma nova etapa da grande jornada em busca de mim mesma. Os dias de descoberta têm sido incríveis. Sei que terminarão no dia de meus anos, mas também tenho pela certeza que é apenas a primeira etapa da jornada, que há mais a ser feito e mais a ser descoberto.

Volto a estudar, para tentar desemburrecer. Sei que vou me soterrar de matérias por anos, que a vida social diminuirá, que muitas coisas terão que ser postergadas, mas, ainda assim, são coisas que devo terminar. E não me assusto mais. Sei que meu corpo se prepara, sei que a luta será árdua, mas que a pele está endurecida, que a carcaça está plena para sobreviver. Nada pode me derrotar mais. E isso é uma sensação incrível, que me faz invencível e passível de esmagar cabeças e crânios. Khaleesi. É quem sou. Eu e meus dragões.

Ainda me perco, vez por outra (porque a carne é fraca), na vida de outras pessoas que não me interessam. É apenas uma forma de querer espalhar um pouco de charme pelo dia a dia, uma necessidade hedonista de atenção, um certo cabo de guerra de meu ego. Sim, ainda tenho muitas sessões de terapia e muitas coisas a aprender, mas não me nego nem os pequenos prazeres do ódio mais. (Sim, acho que a libertação do corpo está libertando também minha mente, que, aos poucos, se liberta de tanta culpa católica que havia se instalado entre minhas vértebras). Não tenho mais o menor medo de voar, não tenho mais nada. E acho que é exatamente por isso que não temo mais, pois não tenho mais nada a perder. 

E agora é tudo ou nada. Tudo ou nada. 

Aucun commentaire: