samedi 24 février 2007

FÊMEA

o meu amado apagou o candeeiro
e apagou a sua amargura no meu corpo
e despertou a sua tristeza, derramou seus olhos no meu sonho
e me despertou.
estendeu sua asa destroçada à minha volta
e abraçou-me.
murmurou sua voz melodiosa ao meu ouvido,
embalando-me
sobre a ramaria das suas lágrimas misturadas,
e quando conseguiu de mim o que desejava
soltou-me
e, a meu lado, adormeceu, enquanto a tarde seu manto recolhia
para que, de manhã, nascesse outra amargura
e nascesse
um desejo na noite que impelisse o peito do meu amado
a apagá-lo sobre o meu corpo
.

Salah Abd Al-Sabur
(Trad: Adalberto Alves)

lundi 19 février 2007

...

Encontro U., U., de uma beleza gelada e impenetrável, sempre tão delicada, tão maleável ao toque. U. é uma garota adorável, um pouco jovem demais, mas alegre, animada, sempre disposta. Seus carinhos são moles, esparsos. Há nela um pouco de preguiça, um pouco de dar-se sem deixar que eu entre totalmente. Nunca encontro resistência alguma, sou sempre eu quem deve começar ou terminar tudo. Quem sabe tudo se deva à sua inexperiência, quem sabe, na verdade, tem algum trauma que a deixa gélida para o mundo. Não que ela recuse o meu corpo, mas sua alegria é incongruente com a forma com que ela se apresenta ao destino, sempre prostrada, não questionando nada ou ninguém. Aceita tudo que lhe acontece, é avessa a conflitos, avessa a qualquer coisa que possa criar vida. Acho que essa é a última vez, a primeira e a última. Realmente.