mardi 30 janvier 2007

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A.. Ah, como descrever A.? A é aquele que é dono de minhas vontades, é aquele que me vira do avesso e sabe como me convencer a fazer toda e qualquer coisa, de latrocínio a suicídio. Seus olhos e seu hálito têm o poder de me abrir, de fazer com que eu desabroche em cima de sua cama. E são lenços e cordas e colheres e mil apetrechos que deixo que utilize ao seu bel prazer em meu corpo, porque não tenho vergonha, porque sua força faz com que eu deixe sempre o meu pudor do lado de fora da porta. Sim, A. me domina e eu aceito. Porque simplesmente não pode ser de outra forma.

samedi 13 janvier 2007

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Há alguma coisa que se manifesta em mim, um tipo de mudança surda que vem se mostrando aos poucos, como que nos reflexos do mármore do banheiro. Olho para o chão negro e vejo meu rosto, meus olhos e procuro atentamente onde ela reside, tento entender que linha de minha feição a anunciará. Pressinto que seja algo que vá me tornar outra mulher, biônica, super-potente, algo nunca antes visto em minha história. Ao mesmo tempo, meus pés tremem e meus joelhos se sentem fracos, como se essa mudança também fosse o prenúncio de minha derrota.

Os dias se arrastam lentos e aqui, nesse enorme apartamento, nada muda, tudo é o mesmo, eu e essa minha estranha gravidez psicológica de mudanças, de coisas assombrosas para salvar a minha vida. E minha gêmea siamesa, onde se esconde quando mais preciso?

Sem poder resolver nada, acendo um cigarro, ando descalça até a geladeira, pego algumas pedras de gelo e afogo minhas preocupações, um belo gole de Bombay Sapphire e um Marlboro.

mercredi 3 janvier 2007

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O ano se inicia e não há nada de novo. Aqui dentro, sempre as mesmas preocupações e mesmas dúvidas. Acho que a solidão -- ainda que não total, ainda que não corpórea -- é a maior responsável por grande parte de meus pesadelos. Será que algum dia alguém vai conseguir ler as coisas que escrevo e entender tudo o que se esconde por trás dos meus olhos, a maldade que carrego em meus ossos, essa necessidade de explodir e devorar o mundo todo? Será? Eu me pergunto.