jeudi 11 décembre 2008

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One wing Cessna - Riding Panico

jeudi 30 octobre 2008

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Sinto por vezes que meu sangue corre em fluxos,
Assim qual uma fonte em rítmicos soluços.
Eu bem que o escuto numa súplica perdida,
Mas me tateio em vão em busca da ferida.

Pela cidade vai, como entre espessos buxos,
As lajes transformando em ilhas e repuxos,
Matando a sede em cada boca ressequida
E a paisagem deixando em púrpura tingida.

Muitas vezes pedi a um vinho caviloso
Aplacar por um dia o horror que me domina;
O vinho aguça o ouvido e os olhos ilumina!

Busquei então no amor um sono descuidoso;
Mas o amor para mim é um leito de suplício
Que a sede há de saciar a essas nifas do vício!

A Fonte de Sangue, Charles Baudelaire

lundi 27 octobre 2008

and when he took his bow, nobody was clapping...

Legendary hearts
tearing up apart
with stories of their love
their great transcendent loves
While we stand here and fight
and lose another night
of legendary love

Estou tão vazia que tenho vontade de explodir. Sim, sou um oxímoro em pessoa, pardon my French. Mas existem as tardes, como esta de hoje, que me chegam tão opacas e inseguras, que acabam tornando a possibilidade do suicídio um perigo iminente. Sinto falta do calor, sinto falta do sangue pulsando em minhas veias. Não me entenda errado, sou muito feliz. Não reclamo de minha vida, reclamo do que acontece fora dela, daquilo que me falta, me faz falta. E sinto falta de pessoas de verdade, sinto falta de:
"Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?"

-- Álvaro de Campos, "Poema em Linha Reta"
É uma coisa simples, é falta de gente simples, falta de gente que apanha como eu, que chega em casa e não tem vontade de fazer nada. Ou tem vontade de morrer aos poucos, de uma forma bem patética e nada romântica. De gente que quer simplesmente comer uma coisa gostosa, que pensa que vai engordar, mas não a cada respiração.

Sinto falta das pessoas que podem dividir livros, músicas e filmes comigo, detesto aquelas que já conhecem tudo, que já experimentaram todos os pequenos êxtases que me aparecem todos os dias. Será que estou ficando para trás? Será que meus poros culturais têm menos capacidade de absorção que os do resto da humanidade? Ou será que só eu admito que realmente não conheço alguma coisa, que gostaria de saber o que está acontecendo do lado de fora?

Ainda tenho a esperança de queimar como um meteorito, de me chamuscar toda ainda mais uma vez. Mas, hoje em dia, tenho plena noção de que tudo se tornou mais difícil, talvez mais insólito. O grito fica preso na garganta, a barriga teimando em guardar a explosão. Acho que a modernidade acabou com a maravilha, isso sim.

lundi 15 septembre 2008

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A honestidade é uma coisa muito importante. Gente que mente, mente a vida inteira, deveria queimar, de maneira lenta e dolorosa. Bastante mesmo.

mardi 22 juillet 2008

I want to see people and I want to see life...


Take me out tonight
Where there's music and there's people
And they're young and alive
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven't got one
Anymore

Existe alguma coisa aqui dentro de mim, um germe, um verme maluco que cava, cava, cava e me deixa maluca a cada dia. É uma necessidade que se exprime das maneiras mais impossíveis, que se imprime nas faces das pessoas menos prováveis na rua. Sim, acho que devo ter algum desvio de caráter, alguma coisa muito má dentro de mim e que me propele à frente. O que será, meu deus, o que será essa fome, essa vontade de morder, esse ser que pede passagem e que nunca realmente ultrapassa as portas que sempre deixo abertas?

Que sina recebi ao nascer, que milagre me foi imposto à revelia? Por que ter essa gêmea siamesa dentro de minhas entranhas, esse simbionte que suga minhas forças por eu me recusar a sucumbir? Por que essa necessidade por tamanha loucura, por tamanha falta de limites, por que precisar de tudo ao mesmo tempo, por que ter que imaginar amigos, situações, vontades?

Não, não digo que tudo o que tenho é errado ou que o que tenho não me baste. Sou muito feliz com minha vida, com esse fogo que arde aqui em casa e que se mantém aceso pela eternidade. Mas há uma psicopata que mora dentro de mim. Uma pessoa que é atraída pelas luzes e pelos sonhos, pelas situações que nunca acontecerão. Que precisa do drama, que precisa se estraçalhar contra as rochas a todo o momento. Quer todos os sete pecados capitais sem tirar nem por. Sim, tenho um escosto de Oscar Wilde sobre os meus ombros. E sou profundamente feliz com isso.

vendredi 11 juillet 2008

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Eu sento aqui, com meu caderno na mão e escrevo, escrevo, escrevo. Escrevo até os dedos sangrarem. Escrevo não porque queira desabafar alguma coisa, mas simplesmente porque é um chamado, uma vocação. Existe alguma coisa dentro do meu peito que teima em se expressar. Ainda não desisti da idéia da gêmea siamesa, que escreve para poder se vingar do mundo todo. Sim, escrevo uma prosa sofrida e extremamente existencialista, fluxo de pensamento, dor escorrida diretamente das entranhas. Não tenho como evitar essas coisas. E, o pior, é que sei que é bom. Não adianta ninguém me falar nada, sei que é bom. Só que também existe uma ponte que não consigo cruzar, que é aquela entre o caderno e o mundo, aquela que me diz que vou ter que expor essa alma em carne viva que se torna qualquer folha que me cai nas mãos. Oras. Sou Clarice, combino com o nome. Se não fosse dramática, quem mais seria? Não seria.

lundi 5 mai 2008

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Sabe o vinho vestir o ambiente mais espúrio
Com seu luxo prodigioso,
E engendra mais de um pórtico miraculoso
No ouro de um vapor purpúreo,
Como um sol que se põe no ocaso nebuloso.

O ópio dilata o que contornos não tem mais,
Aprofunda o ilimitado,
Alonga o tempo, escava a volúpia e o pecado,
E de prazeres sensuais
Enche a alma para além do que conter lhe é dado.

Mas nada disso vale o veneno que escorre
De teu verde olhar perverso,
Laguna onde minha alma se mira ao inverso...
E meu sonho logo acorre
Para saciar-se nesse abismo em fel imerso.

Nada disso se iguala ao prodígio sombrio
Da tua saliva forte,
Que a alma me impele ao esquecimento num transporte,
E, carreando o desvario,
Desfalecida a arrasta até os umbrais da morte!

O Veneno, Charles Baudelaire

samedi 12 avril 2008

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Rita Redshoes - Hey Tom

mercredi 9 avril 2008

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Não me olhe assim que eu caso.

dimanche 30 mars 2008

Carta III

Prezada Salomé,

Não, as feridas ainda não fecharam. O golpe que você desferiu em meu coração foi tão profundo que o corpo ainda não conseguiu se recuperar. Essa dor (infinita) ainda permanece em minha alma e faz com que eu não tenha condições de operar normalmente. É como se, de uma hora para a outra, tudo o que existia em mim tivesse sido arrancado violentamente, até mesmo a minha fé (que não é pouca).

Nunca pude sequer cogitar que você faria uma coisa dessas, que me trocaria dessa forma. Pior, que me trocaria por uma coisa tão menor, tão incongruente com qualquer coisa que você já houvesse me dito. Mas não te culpo, pode ficar sossegada. Eu culpo a mim mesma, não por não ter auto-estima, mas simplesmente por ter enxergado demais em você. Sim, eu enxerguei uma pessoa fascinante e perfeita, eu enxerguei um reflexo de mim mesma em teus olhos e, creio eu, me apaixonei pelo que sou, vindo de você.

É claro que só posso enxergar essas coisas agora que estamos separadas, agora que não tenho mais nenhum contato contigo. E, não minto, ainda te procuro durante a noite, durante o dia, durante qualquer segundo desse tempo infinito que parece não passar nunca. É uma busca cega e injusta, porque procura se esconder de minha própria racionalidade e, quando dou por mim, já estou no seu rastro, narinas palpitantes, procurando seus passos e tentando entender onde você está indo ou o que está acontecendo. Não me censuro, mas não me orgulho disso, não. Ainda mais porque essa busca acontece muito mais por ódio que por saudade, é essa necessidade imbecil de saber o que é que aconteceu, de entender os motivos (ou a falta deles). De repente você é realmente esse bicho ensandecido e sem a menor moral, sem qualquer sentimento, que acho que muitas vezes você é. À noite, quando sento lendo os diários que você abandonou aqui em casa, juntamente com as cartas e as dedicatórias nos livros e nos cds, realmente acho que você tem algum problema mental. Não consigo saber ao certo que tipo de problema, mas acho que alguma coisa existe, um bicho dormente que faz com que você estrague tudo em que toca. Enquanto eu produzo ouro com o meu toque (vide o que fiz por você), você transforma tudo em merda, merda pura. Pura mesmo.

Acho que por hoje é isso. Não consigo me concentrar direito. Tenho diversos problemas para resolver aqui em casa. Prometo tentar voltar em breve para cagar na sua cabeça novamente, não se preocupe.

Carinhosamente,

C.

samedi 15 mars 2008

Carta II

Prezado Shelley,

Ah, quem me dera ter teus dedos frios sobre minha carne, teus lábios finos a sussurrar stanzas ao meu ouvido. Sim, como gostaria de ouvir tua voz ao pé de meu leito, enquanto lias histórias de terror para que eu não conseguisse dormir durante a noite, porque sim, sim, eu seria uma donzela do século dezoito, virginal e à espera do homem que viesse a corromper todos os meus conceitos, aquele que me arrancaria deus da alma e que me ensinaria os princípios da liberdade, da não-violência, do querer não obedecer a nada e a ninguém. Sim, seria você meu cavaleiro das trevas, meu tão sonhado demônio. E eu te receberia em meu quarto, com meus pés descalços, deixaria a camisola longa e branca cair no caminho da cama e a ti me entregaria, o corpo totalmente livre de qualquer mácula e pronto para receber todas as suas perversidades. E sim, sim, fugiria contigo para a Suíça, seria tua terceira esposa, dividiria teu amor com Lord Byron e inauguraria uma nova era farta de triângulos amorosos e fetiches proibidos. Sim, poderia fazer o que quisesse com minha carne e mente, desde que tua pele e seu hálito me inspirassem sempre a querer mais, a querer ser mais, a querer mais de mim. Sim, poderias tudo e eu também o poderia, pois o teria, a você, sim, a você somente, e a mais todos os amigos que tivesse, pois eu te quereria tanto que não me contentaria com as partes de seu corpo, teria que absorver o que de você restava nos outros. Sim, a todos os seus amigos e amigas, a todos com os quais tivesse contato. Sim, todos eles eu engoliria e digeriria, insaciável, sempre. E das partes suas que encontrasse pelo mundo, construiria meu novo Frankenstein, muito diferente do de Mary, pois seria o meu, feito de você. E mais nada.

Com amor,

C.

vendredi 22 février 2008

Carta I

Prezada X.,

Existe algo em tuas mãos que sempre faz com que meu corpo trema ao menor toque, à ameaça de contato. Esse algo que habita a sua alma é sempre responsável pelo meu tormento, pela minha necessidade de te ter por perto ainda mais uma vez. Não sei ao certo classificar onde me encontro nesse jogo de indas e vindas, mas sei que existe alguma parte de você enterrada bem fundo dentro de minha alma.

Repetidas vezes eu me pego encarando meu reflexo no espelho, procurando onde jaz essa cova, esse corpo, esses ossos que sempre cismam em voltar a me assombrar. E é um gesto tão sincero e genuíno que, muitas vezes, me demoro muito tentando entender o que estou fazendo. Esse indagar, esse olhar para dentro é extremamente doloroso, pois, de uma forma ou de outra, tenho que remexer todas as partes que você queimou dentro de mim. Esse revisitar as cicatrizes é algo que sempre me machuca e me assombra, saiba você ou não.

Gostaria que soubesse o quanto você foi importante na minha vida. Não houve minuto algum em que recusei nada, tudo esteve sempre aberto para a sua entrada, tudo em mim esperava ser pilhado. Sim, deixei todos os meus bens à vista, tudo o que era e tudo o que queria. De mim poderia ter tido os livros, as músicas, todos as minhas possessões mundanas, inclusive meu corpo possuído, tomado pelo demônio que você conheceu muito bem. Sim, aquele corpo que arfava e deixava que os olhos mudassem de cor assim que teu hálito se aproximava. Sim, aquele corpo que vivia única e exclusivamente para ceder aos seus caprichos, eu, femme fatalle sendo subjugada por você, pequena Davi.

Aproveitei todos os momentos em que senti teus dedos se entrelaçando em meu pescoço, sua mente tramando o final. Ofereci de bom grado a garganta, esperei e antecipei a sensação do frio da lâmina contra minha pele, minha Salomé querida. Sim, agora é Salomé teu nome. É assim que te chamarei para o resto da vida, ou pelo tempo em que ainda me lembrar de você. E espero que seja muito.

C.