samedi 15 mars 2008

Carta II

Prezado Shelley,

Ah, quem me dera ter teus dedos frios sobre minha carne, teus lábios finos a sussurrar stanzas ao meu ouvido. Sim, como gostaria de ouvir tua voz ao pé de meu leito, enquanto lias histórias de terror para que eu não conseguisse dormir durante a noite, porque sim, sim, eu seria uma donzela do século dezoito, virginal e à espera do homem que viesse a corromper todos os meus conceitos, aquele que me arrancaria deus da alma e que me ensinaria os princípios da liberdade, da não-violência, do querer não obedecer a nada e a ninguém. Sim, seria você meu cavaleiro das trevas, meu tão sonhado demônio. E eu te receberia em meu quarto, com meus pés descalços, deixaria a camisola longa e branca cair no caminho da cama e a ti me entregaria, o corpo totalmente livre de qualquer mácula e pronto para receber todas as suas perversidades. E sim, sim, fugiria contigo para a Suíça, seria tua terceira esposa, dividiria teu amor com Lord Byron e inauguraria uma nova era farta de triângulos amorosos e fetiches proibidos. Sim, poderia fazer o que quisesse com minha carne e mente, desde que tua pele e seu hálito me inspirassem sempre a querer mais, a querer ser mais, a querer mais de mim. Sim, poderias tudo e eu também o poderia, pois o teria, a você, sim, a você somente, e a mais todos os amigos que tivesse, pois eu te quereria tanto que não me contentaria com as partes de seu corpo, teria que absorver o que de você restava nos outros. Sim, a todos os seus amigos e amigas, a todos com os quais tivesse contato. Sim, todos eles eu engoliria e digeriria, insaciável, sempre. E das partes suas que encontrasse pelo mundo, construiria meu novo Frankenstein, muito diferente do de Mary, pois seria o meu, feito de você. E mais nada.

Com amor,

C.

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