samedi 9 avril 2011

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Prezada Salomé,

Quero que saiba que entendo seus jogos. Entendo tudo o que você faz e não tenho o menor pudor em admiti-lo. Ultimamente, ou, há algum tempo, nada mais me liga direito a você, ainda assim, gosto de observar a forma com que você faz as coisas, a forma com que me chama de volta, só para que eu possa narrar a bela e elegante forma com que resisto aos seus encantos. A vida é assim, a gente aprende. Eu tenho uma mala cheia de destroços, portáteis, que carrego comigo onde quer que eu vá. São destroços e lembranças, coisas a esmo, que colho pelas esquinas. Aqui dentro, nessa malinha, tenho alguns cabelos seus e muito, muito sangue, que saiu de mim em diferentes épocas de minha vida. Mas, ainda assim, estão todos classificados, em seus potinhos, com datas, nomes e números, um caso pré-Dexter. 

Ultimamente, só escrevo em fragmentos, me perco entre minhas reticências. Tenho essa necessidade muda de me esconder por entre minhas folhas de papel. De uma hora para a outra, não tenho mais vontade de conversar com ninguém, não quero me mostrar, quero apenas permanecer dentro de minha concha, quieta, quente, segura. E não é nada patológico, não se preocupe, minha querida. É apenas um processo, uma certa maturação, ou amadurecimento, que me tomou de repente. Da mesma forma com que troquei aquele vinho tão famoso por Cabernets Sauvignons genéricos. Qualquer um que seja. E, oh, que ótima companhia que me fazem. Ultimamente também tenho uma queda por pequanas doses de whisky durante o dia. O que é uma coisa bem estranha, tendo em vista que nunca realmente gostei deste tipo de bebida. Deve ter sido a última viagem, vai saber. Novos ares sempre me trouxeram novos hábitos. O que eu acho bom, porque sempre me sinto renovada e com algum novo sonho, alguma nova coisa para fazer. Não sei explicar direito, ainda mais para uma pessoa como você, besta. Presa em alguma coisa que eu realmente não consigo entender.

E não quero agora, agora não. É domingo e vou me entupir de chá de erva-cidreira. Aproveitar a chuva. Esquentar os pés no edredon. Assistir televisão enorme. Ver filmes antigos. Tirar um cochilo no sofá grandão da sala. Fazer coisas mil até a hora de dormir de verdade. Porque daí, nessa hora, que é tudo acontece, quando o mundo está vivo realmente, porque tem alguém que me espera. Oh, lá em casa.

Um beijo carinhoso,

C. 

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