samedi 7 août 2010

Passagem das horas

Há um buraco dentro de minha alma e esse buraco é eterno. Não há nada que possa tampá-lo, nem mesmo as pessoas interessantes que conheço. É como se elas sempre parassem um pouco antes do ponto a que podiam chegar, é como se elas tivessem medo de realmente enxergar o demônio que se esconde dentro de mim. Esse demônio, que é minha irmã e eu mesma, é a coisa mais fascinante que já encontrei na face da Terra. É a pessoa com quem eu gostaria de sentar por horas a fio, é a pessoa quem eu gostaria de ter por perto sempre que eu necessitasse de alguma coisa, qualquer que seja.

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

-- Passagem das Horas, Fernando Pessoa

O que mais me incomoda é a solidão, uma solidão da alma, que nunca se vai. É uma falta de ter alguém que poderia me entender pelo olhar, que poderia me recomendar o livro da minha vida. Tenho diversos amigos, amigos muito queridos e com quem eu sempre posso contar. Mas não é disso que estou falando, estou falando a respeito de uma extensão do que sou, de alguém com quem me comunicaria sem palavras, sem esforço.

E ainda assim espero que minha vida seja salva, e ela é, seja por um filme, seja por uma música, seja por um recorte de jornal.

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