
Sofrem. Ah, como minhas amigas sofrem! Desde a infância nunca tiveram um só instante de alegria e calma plácida, de felicidade plena, aquelas que crianças têm quando estão todas sujas a brincar com lama. Coitadas! Intuo que adquiriram consciência quando eram ainda unicelulares e sentiram na carne a dor de todas as divisões sucessivas. Tenho certeza absoluta que aceitaram resignadamente o momento de azar em que se tornaram homozigotas, recebendo a chaga do feminino sobre seus corpos em formação. Suas infâncias foram conturbadas e todas fazem questão de continuar vinculadas aos seus traumas. Sim, nenhuma delas é forte o bastante para encarar as cicatrizes e entendê-las. Fazem delas estandartes, grandes justificativas de seus desvios de comportamento e de suas necessidades de aceitação. Claro, são coitadas, sofrem tanto, então devem ser perdoadas, compreendidas, ouvidas e mimadas. São coitadas, mas coitadas fortes, é claro. Fazem questão de dizer isto a cada cinco minutos de conversa. O tempo todo. Falam. Minhas amigas falam mais do que é possível a um ser humano normal. Nasceram com o dobro das cordas vocais e com orifícios falantes por todo o corpo. Não conseguem parar -- acho que também é genético. A conversa necessariamente deve ser pungente, tocante, escandalosa. Tudo é sempre extremo, especialmente a quantidade e a qualidade. Não conseguem permanecer caladas. É mais forte que elas, coitadas.
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