Breve encontro com D.. Ela é uma mulher delicada, morena, cabelos longos, que escorrem preguiçosos até abaixo do ombro. Seu olhar é demorado, sua boca, preguiçosa. Encontramo-nos em um bar e nos demoramos em conversas intelectuais, discutindo pintura e música. Gosto de sua companhia pois ela me estimula intelectualmente. Nossas mãos se encontraram sub-repticiamente, por baixo da mesa e dos olhares alheios. Ali, em nosso mundo de desejo, nada nos importunava, nem mesmo os marmanjos que cismavam em sentar em nossa mesa e puxar papo. Não, ali, entre nossos copos borbulhantes, éramos só nos duas. Champagne e toques velados. D. sempre soube como trazer minha delicadeza à tona, sempre fez com que eu montasse estratagemas rendados para que pudéssemos ter momentos perfeitos, de carne macia e trêmula, de segredos sussurrados em meio a lençóis de hotéis de segunda. Era uma lei, tudo entre nós sempre foi nostradâmico. Havia nossa dança, nossa corte, que muitas vezes se prorrogava por horas, sem qualquer toque mais despudorado, tudo era feito pretenciosamente de propósito, desde o decote, perfume, bebida, bar, até os olhares trocados com outras(os) durante a noite, as escapadas sorrateiras para o banheiro, enquanto fingíamos nos interessar por quaisquer outros corpos que pudessem estar disponíveis no momento, no exato momento em que decidiríamos brincar com o desejo uma da outra. E era um jogo muito sem vergonha, com regras entendidas somente por nós duas, que se revelavam entre sorrisos e olhares, por entre nossa respiração. Éramos as duas caça e caçadoras, sempre buscando uma fagulha, ou qualquer outro sinal que pudesse demonstrar a indecisão da parte alheia, ou o exato momento em que esse mesmo jogo era interrompido. E, nos momentos seguintes, nos momentos seguintes é que a vida se fazia.
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