jeudi 30 octobre 2008

...

Sinto por vezes que meu sangue corre em fluxos,
Assim qual uma fonte em rítmicos soluços.
Eu bem que o escuto numa súplica perdida,
Mas me tateio em vão em busca da ferida.

Pela cidade vai, como entre espessos buxos,
As lajes transformando em ilhas e repuxos,
Matando a sede em cada boca ressequida
E a paisagem deixando em púrpura tingida.

Muitas vezes pedi a um vinho caviloso
Aplacar por um dia o horror que me domina;
O vinho aguça o ouvido e os olhos ilumina!

Busquei então no amor um sono descuidoso;
Mas o amor para mim é um leito de suplício
Que a sede há de saciar a essas nifas do vício!

A Fonte de Sangue, Charles Baudelaire

lundi 27 octobre 2008

and when he took his bow, nobody was clapping...

Legendary hearts
tearing up apart
with stories of their love
their great transcendent loves
While we stand here and fight
and lose another night
of legendary love

Estou tão vazia que tenho vontade de explodir. Sim, sou um oxímoro em pessoa, pardon my French. Mas existem as tardes, como esta de hoje, que me chegam tão opacas e inseguras, que acabam tornando a possibilidade do suicídio um perigo iminente. Sinto falta do calor, sinto falta do sangue pulsando em minhas veias. Não me entenda errado, sou muito feliz. Não reclamo de minha vida, reclamo do que acontece fora dela, daquilo que me falta, me faz falta. E sinto falta de pessoas de verdade, sinto falta de:
"Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?"

-- Álvaro de Campos, "Poema em Linha Reta"
É uma coisa simples, é falta de gente simples, falta de gente que apanha como eu, que chega em casa e não tem vontade de fazer nada. Ou tem vontade de morrer aos poucos, de uma forma bem patética e nada romântica. De gente que quer simplesmente comer uma coisa gostosa, que pensa que vai engordar, mas não a cada respiração.

Sinto falta das pessoas que podem dividir livros, músicas e filmes comigo, detesto aquelas que já conhecem tudo, que já experimentaram todos os pequenos êxtases que me aparecem todos os dias. Será que estou ficando para trás? Será que meus poros culturais têm menos capacidade de absorção que os do resto da humanidade? Ou será que só eu admito que realmente não conheço alguma coisa, que gostaria de saber o que está acontecendo do lado de fora?

Ainda tenho a esperança de queimar como um meteorito, de me chamuscar toda ainda mais uma vez. Mas, hoje em dia, tenho plena noção de que tudo se tornou mais difícil, talvez mais insólito. O grito fica preso na garganta, a barriga teimando em guardar a explosão. Acho que a modernidade acabou com a maravilha, isso sim.